O ano de 1980 começou com uma incômoda marca: o Brasil não ganhava uma Corrida de São Silvestre havia 34 anos e, se nesse ano não fosse ganha por um brasileiro, seria o 35.º ano sem títulos. Pois o corredor são-paulino José João da Silva acabou de vez com esse estigma, faturou o título e de quebra ainda estabeleceu os recordes brasileiros dos 5 mil e dos 10 mil metros, que só seriam ultrapassados depois de dezesseis anos. Em 1985, após passar por uma cirugia no joelho e quebrar um braço, ele conquistou seu bicampeonato na corrida trajando as cores do Tricolor do Morumbi.[35][36][37][38]
No futebol, o time começou a década de 1980 muito bem, com um bicampeonato paulista em 1980 e 1981 e um vice-campeonato brasileiro também em 1981, conquistando dessa maneira os apelidos de Máquina Tricolor e Tricolaço.[6][7] A partir de 1981 o clube fez uma série de intercâmbios com times americanos, iniciados com o Cosmos, que possibilitaram trazer o zagueiro Oscar para o clube. Ainda em 1981 o clube teve a honra de atuar com o camisa 10 Rivellino, em um amistoso contra a seleção da Arábia Saudita.[7] Nessa época o clube passou por uma reformulação geral em seu quadro de diretores, que passaram a gerir o clube de forma ambiciosa com a intenção de elevar o clube a potências de nível europeu. Para tal foram vendidos gradativamente diversos jogadores, entre eles Müller e Chicão, e contratados tantos outros, tais como Renato e Oscar.[6]
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É mais que Tricolor, é Tricolor com aço, é Tricolaço! |
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— Slogan do time inspirado em um comercial de pneus, [7]
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Careca, autor do gol de empate na final do Brasileiro de 1986. (Imagem: Valter Campanato/ABr)
O time até que começou bem o ano de 1982, mas com o vice-campeonato paulista perdido para o Corinthians uma fase transitória já estava a caminho. Serginho Chulapa se transferiu para o Santos em 1983 e para seu lugar a diretoria contratou o jovem e talentoso Careca, mas o calvário continuou com outro vice-campeonato, novamente para o Corinthians, e a "máquina" emperrou de vez. Em 1984 o técnico Cilinho começou a novamente dar forma ao time e no ano seguinte promoveu diversos jogadores da categoria de base do clube, entre eles Müller e Silas, e, após uma reação surpreendente em um empate contra o Grêmio, o time ganhou a alcunha de Menudos do Morumbi, em alusão à banda porto-riquenha Menudo.[7] Vale salientar que houve também a contratação do "Rei de Roma", Falcão, que chegou como a grande contratação do ano de 1985.[6] Com esse time, o clube conquistou o bicampeonato brasileiro em 1986 e os Paulistas de 1985 e 1987.[7]
No brasileiro de 1986 o São Paulo entrou como favorito ao título, diferente do que havia acontecido em 1977,[7] porém isso não significa que o time teve vida fácil. Nas primeiras fases tudo correu muito bem, com apenas uma derrota. Aí vieram os mata-matas, e a estrela de Careca brilhou mais forte: ele só deixou de marcar no jogo de ida contra o Fluminense. O clube passou por adversários fortes e chegou à final contra o Guarani, ex-time de Careca. O primeiro jogo terminou empatado em 1 a 1, com gols de Evair para o bugre e de Careca para o tricolor — artilheiros da competição com 24 gols cada. A decisão seria no jogo de volta, a ser disputado em um estádio Brinco de Ouro da Princesa lotado. No tempo regulamentar, novamente empate em 1 a 1, o que forçou a prorrogação. No primeiro minuto o São Paulo virou o jogo, mas seis minutos mais tarde o Guarani empatou. Aos cinco minutos do segundo tempo da prorrogação o Guarani fez 3 a 2 e, confiante que não haveria mais tempo para um novo empate, o responsável pelo sistema de alto-falantes do estádio começou a tocar o hino do clube. Mas faltando apenas um minuto para o fim a bola sobrou para Careca empatar o jogo e desempatar a artilharia da competição. Novamente o título seria decidido nas penalidades, e foi novamente a favor do Tricolor do Morumbi.[6]
Já o ano de 1988 não foi pródigo em títulos e culminou com o fim da fase dos Menudos, mas serviu para enriquecer ainda mais o patrimônio do clube, pois em 9 de abril foi inaugurado o Centro de Treinamento Frederico Antonio Germano Menzen — também conhecido como CCT da Barra Funda ou ainda CT Barra Funda —, no bairro da Barra Funda, em uma área de 44 472 metros quadrados.[6] Ele surgiu como uma necessidade de acomodar melhor os atletas da categoria principal do São Paulo, uma vez que o Estádio do Morumbi com a modernização do esporte e apesar de confortável, não oferecia tudo o que o time necessitava.[39]
O time foi mal em 1988, mesmo com a contratação de Bobô, e não conseguiu muita coisa. O ano de 1989 parecia que seguiria na mesma toada, mas, com uma mudança no comando do time, a motivação às peças que já estavam jogando — entre elas Raí — e a contratação de Ricardo Rocha, o time conquistou o Paulista de 1989.[6][7]
Uma curiosidade dessa época é que o time, em suas cinco conquistas estaduais, sempre começou mal as disputas e foi se recuperando no decorrer da competição, o que lhe conferiu o apelido de "time de chegada". Por conta disso, a torcida não se preocupava com um mau começo nos campeonatos, pois sabia que o time teria condições de chegar ao título.[6]
[editar] A era Telê — 1990 a 1994
Telê Santana, técnico que conquistou dois Mundiais e duas Libertadores no São Paulo. (Imagem: tales.ebner)
Após praticamente duas décadas vitoriosas, alguns apostavam em uma fase descendente do clube, o que pareceu que iria ocorrer em 1990. Logo no Paulista daquele ano o São Paulo foi muito mal, não conseguindo se classificar entre os dezesseis que iriam à segunda fase e que consequentemente ficariam no grupo mais forte no ano seguinte. Restava ao tricolor conseguir uma vitória na repescagem contra o Botafogo de Ribeirão Preto para continuar com pretensões de título. Mas conseguiu apenas um empate e nem a goleada por 6 a 1 sobre o Noroeste na última rodada fez com que o time conseguisse a classificação.[6][7]
Esse episódio é um dos mais controversos da história do futebol paulista: afinal, teria o São Paulo sido rebaixado em 1990? Para explicar essa passagem, é necessário que sejam explicados também os estaduais anteriores. Em 1988 e 1989 também não houve descenso.[6][40] E o regulamento do ano de 1990 não previa, seguindo os anteriores, descenso à divisão imediatamente inferior.[6][40][41]
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Para o Campeonato da Primeira Divisão de Futebol Profissional de 1991, o Grupo I será constituído pelas 14 associações classificadas para disputar a quarta fase do Campeonato de 1990 e o Grupo II será constituído pelas dez associações restantes que não se classificaram para a quarta fase e mais quatro advindas da Divisão Especial de 1990. |
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— Parágrafo 1.º do Artigo 5.º do regulamento do Campeonato Paulista de 1990, [41]
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No campeonato da primeira divisão de futebol profissional de 1990, não haverá descenso à divisão especial de futebol profissional. Mas a partir de 1991, ou a cada ano, haverá o descenso de uma associação da Primeira Divisão de Futebol Profissional e o acesso de uma associação da Divisão Especial de Futebol Profissional. |
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— Parágrafo 2.º do Artigo 5.º do regulamento do Campeonato Paulista de 1990, [41]
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Raí, um dos líderes na conquista da Libertadores e do Mundial de 1992. (Imagem: tales.ebner)
Voltando ao campeonato, o São Paulo, já com Telê Santana, não conseguiu melhorar sua colocação no Paulista de 1990. Mas já no Paulista de 1991 colocou ordem na casa e, valendo-se de jogar contra times menores, conseguiu chegar às finais do campeonato e mais tarde ao título, disputado contra o Corinthians. O grande nome desse campeonato, e que seria por mais algum tempo, foi Raí, que chegou ao clube e, apesar de ser um dos mentores do título de 1989, não era unanimidade. Chegou a ser vaiado e quase foi emprestado. Mas Telê insistiu nele, o que acabou gerando resultados, pois foi Raí que novamente levou o clube a mais um estadual.[6] E Telê realmente arrumou o time, pois, após duas finais seguidas que o time perdeu, faturou o título de tricampeão do Brasil em 1991 na terceira.[6]
A partir daí o mundo era o limite[7], tanto que em 1992 o clube definiu como primordial a conquista da Taça Libertadores da América de 1992, uma vez que na Libertadores de 1972 o clube ficara a um empate da final, em 1974 perdera a final no jogo-desempate e em 1978, 1982 e 1987 não passara da primeira fase. A taça era prioridade para o clube, mas não para Telê, que considerava a competição desleal. Desse modo, escalou apenas três titulares no jogo de estreia e perdeu para o Criciúma por 3 a 0. Mas a diretoria insistiu e forçou o técnico a priorizar a competição sul-americana, dizendo que desde aquela data ela contaria com exame antidoping, no que foi prontamente atendida.[6] O time foi evoluindo durante a competição. No primeiro jogo da final, em Buenos Aires, o Newell's Old Boys venceu por 1 a 0. No jogo de volta, uma cena inédita: horas antes do jogo, o Morumbi já não tinha lugar para mais ninguém, com 105 185 pessoas dentro do estádio e mais 15 mil do lado de fora — mas a torcida continuava chegando. As vias de acesso ao estádio ficaram entupidas. E, empurrado por um estádio apinhado, finalmente o título da Libertadores veio, nos pênaltis, depois de vitória por 1 a 0 no tempo normal. A torcida invadiu o gramado para comemorar em uma festa que a cidade de São Paulo jamais havia visto.[6]
Com esse título, o clube partiu para um compromisso ainda maior: enfrentar o Barcelona de Johan Cruijff — considerado o melhor Barcelona de todos os tempos[6] —, com craques do nível de Koeman, Stoichkov e Laudrup pelo Mundial Interclubes. Antes, em agosto, o clube já havia enfrentado o mesmo Barcelona e conquistado uma vitória por 4 a 1, pelo Troféu Teresa Herrera. No jogo do mundial, o Barcelona saiu na frente, mas dois gols de Raí viraram o jogo e deram o título ao time de Telê Santana. O São Paulo era enfim o melhor time do mundo. Na volta, o São Paulo fez mais uma vítima, na segunda partida da final do Paulista de 1992: o Palmeiras, que amargava uma fila de 16 anos.[6]
Zetti, goleiro titular dos títulos de 1992 e 1993. (Imagem: tales.ebner)
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O São Paulo foi impecável a partida inteira. Venceu com toda justiça. |
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— Johan Cruijff, técnico do Barcelona após derrota para o São Paulo pelo Mundial Interclubes de 1992, [6]
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Se é pra ser atropelado, melhor que seja por uma Ferrari. |
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— Johan Cruijff, idem acima, [6][42]
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Após o São Paulo chegar ao topo do mundo, era preciso manter-se nele. Para tal, novamente foi dada prioridade máxima à Libertadores de 1993, dessa vez com um facilitador: como havia sido campeão em 1992, o time já entraria na fase de mata-matas. A equipe estava muito bem preparada, com a parte técnica e tática no auge e pronta para enfrentar um ano em que o time realizaria 97 partidas.[6]
O São Paulo passou mais facilmente por seus adversários em relação ao ano anterior e chegou às finais contra a Universidad Católica, do Chile. O time aplicou no primeiro jogo, no Morumbi, uma sonora goleada por 5 a 1 e praticamente colocou a mão na taça. O segundo jogo, vencido pelo clube chileno por 2 a 0, não tirou o brilho da conquista em que foi aplicada a maior goleada em finais do certame de toda a história. Esse foi o último campeonato de Raí, que iria para a França desfilar seu futebol.[6]
Por pouco o São Paulo não repetiu a dobradinha Libertadores/Paulista. O clube ficou fora das finais contra o Palmeiras por conta de um revés para o Corinthians, em que Neto marcou um gol em claro impedimento e um gol legítimo de Palhinha foi anulado.[7] Pela Recopa Sul-Americana, o clube conseguiu seu primeiro título, em cima do Cruzeiro, nas penalidades, e dois meses depois conquistou a Supercopa, em cima do Flamengo.[7]
Palhinha, artilheiro do clube na Libertadores de 1993. (Imagem: tales.ebner)
O São Paulo chegou enfim ao jogo do Mundial Interclubes, dessa vez contra o Milan de Fabio Capello, único campeão italiano invicto da história. O jogo era esperado com muita ansiedade, pois especialistas colocavam as duas equipes como as melhores do mundo à época.[6] O Milan partiu para cima do São Paulo, sufocando o time e criando as melhores condições de abrir o placar, mas o tricolor é que marcou o primeiro gol. Os italianos empataram no segundo tempo em uma cobrança de escanteio, mas onze minutos depois o São Paulo desempatou novamente. Eis que o Milan conseguiu, aos 36 minutos, novo gol de empate. Tudo levava a crer que haveria prorrogação, e o time brasileiro talvez não tivesse fôlego para tal por conta das quase cem partidas no ano. Mas Müller estava com muita sorte: em um lançamento mal feito por Toninho Cerezo, a bola rebateu no goleiro do time italiano, bateu no calcanhar do atacante tricolor e entrou de mansinho no gol: 3 a 2.[6] Nos contra-ataques o São Paulo faturou seu segundo título mundial.[7]
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No ano passado, o supertime era o Barcelona, mas viemos a Tóquio e ganhamos deles. Este ano, o supertime era o Milan. E também vencemos. Então eu pergunto: se eles são supertimes, o que é o São Paulo, afinal? Gostaria que me respondessem… |
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O São Paulo chegou novamente às finais da Libertadores em 1994, mas não foi possível levar o tricampeonato. Na verdade, boa parte do ano de 1994 foi infeliz: com exceçoes foram a Recopa Sul-Americana, vencida contra o Botafogo e a Copa Conmebol. Precisamente, a surpresa do clube nesse ano foi o chamado "Expressinho"[6], o time de juniores e reservas do clube que disputava as partidas e torneios amistosos quando o time titular não estava disponível. Mas esse time, que tinha entre seus titulares jovens promessas, como Rogério Ceni, Juninho Paulista e Denílson, foi designado para jogar, entre outros campeonatos, a Copa Conmebol (competição precursora da atual Copa Sul-Americana), e trouxe o título, ganho em cima do Peñarol, que incluiu uma goleada por 6 a 1 no primeiro jogo da final.[6]
Telê Santana ficou por cinco anos no São Paulo. Nesse período venceu todas as competições possíveis de ser vencidas por um clube paulista (exceto a Copa do Brasil): Campeonato Paulista, Brasileiro, Libertadores, Copa Conmebol, Supercopa da Libertadores, Recopa da Libertadores e Mundial Interclubes, além dos torneios Ramón de Carranza e Teresa Herrera.[7]
Em 1993 decidiu-se organizar e mostrar as conquistas do clube. Para isso foram necessários dez meses de planejamento para, em 1994, ser inaugurado o Memorial Luiz Cássio dos Santos Werneck.[43] O nome é homenagem a Luiz Cássio dos Santos Werneck, fiel escudeiro de Cícero Pompeu de Toledo durante toda a construção do Estádio do Morumbi.[6] Até então, não havia um cuidado muito grande com a história do clube, e o Tricolor Paulista foi o precursor nesse tipo de empreendimento.[43]
O memorial foi montado para que, além de mostrar as conqusitas dos gramados, também pudesse exibir conquistas fora deles. Além disso, preocupa-se em mostrar pontos importantes da história não só para o clube, mas para todo o esporte. Encontram-se no memorial, por exemplo, os troféus já conquistados na história do clube, objetos pessoais de Éder Jofre, Leônidas da Silva e Adhemar Ferreira da Silva, retratos de jogadores e ídolos, a história do Estádio do Morumbi e as conquistas de todas as modalidades já praticadas no clube.[43]